Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
O above e o below na publicidade, na política, no desporto e na vida em geral. E algumas histórias entre linhas.
Tarde de aniversário, a meio da semana, passada numa sala de cinema. Em silêncio (e com 4 filhos, só Deus sabe como precisamos de silêncio), a ver o filme da vida de Scorsese, que passou de presumível candidato a Óscares a praticamente desprezado nas nomeações - injustamente, parece-me.
Com uma fotografia e um guarda-roupa absolutamente extraordinários, o filme (baseado no romance do japonês católico Shusaku Endo) conta-nos a história de dois padres jesuítas portugueses, que no séc XVII e recusando-se a acreditar nos rumores que relatavam que o seu mentor tinha rejeitado a fé cristã, rumam clandestinamente para o Japão à sua procura.
Numa altura em que a perseguição aos cristãos naquele país estava ao rubro, as provações, as incertezas, a fé inabalável de uns e os dilemas de outros perante o silêncio de Deus, fazem deste filme uma obra espiritual, em que a dúvida sobre os mistérios da fé é exposta de forma cruel - com as perseguições, a violência e o sofrimento físico e emocional sempre presentes.
O filme retoma o histórico etnocentrismo aplicado à religião, conseguindo o realizador de forma sublime e só ao alcance dos abençoados do cinema, mostrar os lados da fé cristã ou budista, sem inclinar a decisão dos espetadores para o caminho mais fácil - a sua própria crença.
Silêncio esteve em pré-produção cerca de 20 anos, chegou a ter outros atores apontados como protagonistas e foram muitos os que apostaram em como não se iria concretizar. Scorsese acreditou e disse às tantas que se faria “no tempo de Deus”. E fez. E ainda bem.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.